A hidrocefalia, que a maioria de nós reconhecemos como uma malformação em recém-nascidos, também pode afetar adultos. A doença é mais comum entre crianças, especialmente recém-nascidos, e entre idosos, mas pode ocorrer também em outras fases da vida. Entre os sintomas que devem ser observados estão dificuldade repentina para andar, descontrole urinário e alterações cognitivas como perda de memória são alguns sintomas.
Hidrocefalia, popularmente conhecida como “água na cabeça”, é o acúmulo de liquor (o líquido cefalorraquidiano) na cabeça. A retenção deste líquido faz com que os ventrículos cerebrais se dilatem, o que pode provocar danos nas estruturas encefálicas.
O liquor tem a função de proteger o sistema nervoso central e funciona como um órgão de manutenção do metabolismo cerebral. O líquido se forma nos ventrículos, em uma área especifica do cérebro, e normalmente fica em um volume total de 140 a 170 ml. Este líquido se renova a cada 24 horas, em um processo natural do organismo humano. Quando acontece algum desequilíbrio que prejudique está reabsorção do liquor pelo organismo, há o aumento do volume de líquido nesta região, o que caracteriza a hidrocefalia.
Nosso sistema nervoso central é constituído pelo encéfalo (que é formado por cérebro, tronco cerebral e cerebelo) e pela medula espinhal. Estas estruturas são protegidas pelo líquido cefalorraquidiano, também conhecido como liquor, produzido pelos vasos capilares do plexo coroide localizado nos ventrículos cerebrais. O liquor funciona como uma proteção dos centros nervosos, amortecendo os impactos de choques contra o encéfalo e a medula espinhal. Ele também é responsável pelo transporte de nutrientes para o cérebro, pela remoção de resíduos metabólicos e por manter a pressão intracraniana em níveis normais.
Quais são as causas de Hidrocefalia em adultos?
Não há uma única causa para a formação do quadro de hidrocefalia em adultos. A dificuldade do cérebro de reabsorção do liquor pelo organismo pode ser consequência de uma série de eventos ao longo da vida. Pequenos traumas e hemorragias ocorridos ao longo da vida, processos infecciosos ou inflamatórios sem sintomas registrados no histórico do paciente, são eventos que podem contribuir para a geração do quadro.
Nos pacientes jovens, a hidrocefalia normalmente causa obstrução da circulação do liquor, aumentando a pressão intracraniana, provocando cefaleia, vômitos e alterações visuais.
Em idosos, o processo natural de “encolhimento” da massa cerebral que faz com que o espaço na caixa craniana seja maior, seria uma das causas. Neste caso, como o acúmulo do liquido não causa aumento da pressão intracraniana, a a doença é conhecida como hidrocefalia de pressão normal (HPN).
Sintomas variam de acordo com a faixa etária
Os sintomas da hidrocefalia são diferentes de acordo com a faixa etária em que a doença se manifesta.
Em recém-nascidos e bebês:
- Percebe-se que a cabeça cresce de uma forma rápida, com alteração do crânio – resultado do acúmulo de líquido nos ventrículos;
- Em recém-nascidos, a moleira fica dilatada, quando os ossos do crânio ainda não se soldaram;
- Os olhos ficam voltados para baixo (o que popularmente se conhece como “olhar de sol poente
- O couro cabelo fica retesado
- Irritabilidade;
- Sonolência;
- Atraso no desenvolvimento psicomotor.
Em crianças maiores, adolescentes e adultos jovens:
- Dor de cabeça;
- Perda de coordenação, do equilíbrio e de outras habilidades que já faziam parte do seu desenvolvimento
- Acessos de náuseas e vômitos;
- Falta de apetite
- Sonolência excessiva;
- Desatenção, irritabilidade;
- Dificuldade de aprendizagem;
- Convulsões.
Em idosos:
- Declínio mental, com perda progressiva da memória;
- Lentidão de movimentos e instabilidade de equilíbrio;
- Necessidade frequente de urinar e dificuldade para segurar a urina.
Quais os exames que diagnosticam a hidrocefalia?
Para pacientes adultos o diagnóstico de hidrocefalia de pressão normalmente é feito pelo médico, baseado nos sintomas que o paciente apresenta.
Exames de imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética também são importantes para confirmar o diagnóstico, porque permitem visualizar os ventrículos cerebrais dilatados.
Um exame que apoia o diagnóstico é o tap test, que pode ser feito em ambulatório, com anestesia local. Neste procedimento são retirados entre 30 ml e 40 ml de liquor da região lombar do paciente (local onde há muita comunicação do sistema liquórico com o sistema nervoso central) e ele fica em observação por 24 horas. Se neste prazo os sintomas apresentarem melhoras, o médico consegue confirmar o diagnóstico.
Tratamento é feito com cirurgia simples e segura
Em casos leves, que apresentem ritmo de progressão lento, é possível fazer a correção da hidrocefalia com tratamento medicamentoso, com remédios que ajudam a reduzir a produção do líquido, mantendo a pressão intracraniana em níveis adequados. Mas normalmente estes medicamentos provocam efeitos colaterais muito fortes.
Uma cirurgia minimamente invasiva, considerada de baixo risco, em que é introduzido um cateter na cavidade ventricular para desviar o excesso de liquor para a cavidade abdominal é a forma mais comum de tratar a hidrocefalia. O nome do procedimento é cirurgia de derivação ventriculoperitoneal (DVP). Através deste pequeno cateter, a quantidade de liquor que precisa ser drenada é regulada por uma válvula que fica entre os dois cateteres, para direcionar o excesso sempre que houver acúmulo.
Para a hidrocefalia congênita, os médicos contam com os avanços da Medicina que permitem que a anomalia seja detectada nos exames de acompanhamento da gestação. Nestes casos, os médicos podem intervir durante a gravidez, com a possibilidade de duas técnicas diferentes – puncionando o excesso de líquido acumulado dentro do ventrículo do feto ou introduzindo um cateter que desvia o excesso para ser absorvido pelo líquido amniótico. Quando o bebê nasce, o cateter é imediatamente substituído pelo sistema de derivação.